vista geral ca. 1925
ilha de coloane

cemitério na taipa

“Os ânimos na China andavam exaltados, mercê da activa propaganda russa entre os chineses, e de Cantão, foco vermelho de sempre no sul do ex-Celeste Império, irradiara para Macau, como não podia deixar de suceder o cirus da revolta introduzido metodicamente pelos agentes (…) que, nas escolas, quartéis, oficinas, ruas e campos, tinham estendido habilmente a rede da sua propaganda, cujos resultados no espírito simplista da população chinesa, a quem faziam crer que os senhores d ehoje passariam a criados de amanhã, não se haviam de fazer esperar.”
A descrição é de jaime do Inso, marinheiro (capitão-tenente e comandante da canhoneira Patria) em Macau na época. Segundo ele, a pretexto de um funeral, no dia 1 de Maio de 1922 “onde os chineses costumavam dar largas a um simbolismo fantástico” as coisas azedaram. Conta ele que um landim terá feito um comentário a uma chinesa na zona do bazar que foi como um rastilho naquela situação.Os desacatos sucederam-se e houve vários chineses presos “na esquadra do largo do Chip-Seng. A multidão juntou-se toda a noite exigindo a libertação dos presos. Para reforçar posições a lancha Almirante Lacerda saiu da Praia Grande em direcção ao Porto Interior. À chegada, “numa atitude de desrespeito” os chineses tiraram a espada ao comandante da lancha. Foi a explosão final.
Diz Jaime do Inso que as forças disparam sobre a multidão provocando mortos e feridos. A maioria da população chinesa que trabalhava como criados (cúlis) saiu do território. “Os poucos que ficaram fecharam-se em casa.” As portas do Cerco fecharam-se. Macau ficou sem abastecimentos e sem criados. O pouco que chegava ao território provinha de Hong Kong pelas lanchas da capitania e era racionado. “Cerca de 3 meses durou esta situação crítica e tensa.” As coisas do lado chinês sofreram uma reviravolta (ainda os efeitos da proclamação da república por Sun Iat Sen…) e aos poucos os chineses que antes tinham partido regressaram a Macau. Lou Lim ieoc e Xi-Cheong ajudaram a apaziguar a situação.

Junto às Portas do Cerco

Macau esteve representada nesta exposição que não poderia ter ‘chegado’ em melhor altura já que as grandes obras levadas a cabo entre 1918 e 1925 transformaram por completo a cidade. O Governador era Tamagnini Barbosa. O pavilhão obedecia à arquitectura de um pagode. Não era a réplica de nennhum em particular, mas uma mescla dos vários templos de Macau. Ainda assim, a entrada era muito parecida com o Templo da Barra.
Consultado o Boletim da Agência Geral das Colónias de Novembro desse ano pode ler-se: “nos seus stands, decorados a azul celeste e ouro, os tecidos, as águas gasosas, as artes gráficas, os bordados, os artigos de bambú, de joalharia e de ferro, a sua cal, os seus cimentos, e o seus mosaicos, as indústrias de conserva, de artigos de cobre, de cortume, a papeleira, os frutos cristalizados e secos, o mobiliário, o fabrico de tabacos, de pivetes, panchões, vidros, ea formidável riqueza da sua pesca atestam o desenvolvimento colossal da mais pequena e querida colónia portuguesa.”
“Macau, a mais antiga colónia europeia no extremo oriente” foi o título do pequeno livro de Jaime do Inso feito de propósito para dar a conhecer o território aos visitantes da exposição.
Curiosidade: o consulado português em Sevilha funciona no antigo pavilhão português da exposição de Sevilha de 1929 (e que pavilhão! se puderem vejam as imagens da época), um espaço histórico e emblemático de uma das zonas mais importantes de Sevilha, localizado na esquina da Avenida El Cid com a Avenida de Portugal. Depois da exposição de 1929, a autarquia de Sevilha cedeu a Portugal o uso do espaço durante 75 anos. Em 2004 esse acordo foi renovado para mais 50 anos.

Em 1922 Gago Coutinho e Sacadura Cabral alcançaram o Brasil, por via aérea, pilotando o hidrovião Fairey III-D “Lusitânia”. A viagem ficou para a história como a “Primeira Travessia Aérea do Atlântico Sul”. E o que é que isso tem a ver com Macau estarão a pensar? Tudo, ora leiam.
Estes aviadores propuseram-se fazer logo a seguir uma volta ao mundo (só não terá sido consumada porque Sacadura Cabral faleceu em 1924) mas para isso era preciso dinheiro, muito dinheiro. O feito conseguido grangeou-lhes muita fama e estima junto dos portugueses a ponto de terem surgido diversos movimentos de subscrição de apoios junto dos portugueses para financiar a aventura. Macau não foi excepção.
Eis o teor de um folheto emitido em Macau:
“O semanário “A Patria” toma a iniciativa de abrir uma subscrição entre todos os portugueses de Macau e as comunidades macaenses dispersas pelos Portos da China e do Japão, a fim de auxiliar a viagem aérea em volta do mundo, projectada, pelos nossos distintos aviadores,
Sacadura e Coutinho. Trata-se de duma empresa, em cuja efectivação estão empenhados o nome e prestígio do País.Foi um Português o primeiro que circunnavegou o Globo; portugueses devem ser os primeiros a circum-aéronavegá-lo. Poderá, pois, algum compatriota nosso desinteressar-se da arrojada tentativa, cujo exito está de antemão assegurado pelos nomes gloriosos que nela figuram? Alguem que a não acompanhe com imenso carinho e simpatia e não lhe preste todo o seu apoio e concurso?
Certamente que não! Conhecemos bem os sentimentos patrioticos dos portugueses do Extremo-Oriente, para afirmarmos que nenhum deixará de acorrer ao apêlo, que lhe dirigimos. Os portugueses residentes no estrangeiro, em especial os nossos compatriotas do Brasil e dos Estados-Unidos, vibram de entusiasmo ao pensamento de que sejam portugueses os primeiros a fazer a viagem aérea em volta do Planeta. Por toda a parte, onde palpite um coração de português, se olha com enternecido orgulho para o feito grandioso, que ha-de cobrir de gloria o nome de Portugal. E só nós ficaremos indiferentes? Só nós cruzaremos os braços? Seremos nós a nota discordante no meio desta harmonia de pensar e sentir? Não pode ser! Não há-de ser!
Macau, esta jóia portuguesa lapidada pelos nossos maiores e conservada através das gerações pela fé e patriotismo de seus filhos, esta terra coberta de tantas tradições, que estão a apregoar o vigor daquela Raça de herois e de santos tão conhecidos do mundo inteiro, tem a obrigação moral de secundar os esforços, que neste momento todo o País emprega, para que Gago Coutinho e Sacadura Cabral – dois nomes que a história já registou numa página de ouro – consigam realizar o seu plano arrojado, já tentado em vão por outros povos.
Macau – e dizer Macau é abranger todas as comunidades portuguesas do Extremo-Oriente, que são um prolongamento desta linda terra – Macau deve, pois, associar-se a este movimento geral de entusiasmo, que lavra por toda a terra portuguesa. Trata-se duma obra nacional e, portanto, duma obra que tambem é nossa. E’ nossa pelos liames estreitos que nos prendem à Mãe-pátria, pela identidade de interesses entre todos os portugueses, pela gloria que dela ha-de vir para o nome honrado de Portugal. Gao Coutinho e Sacadura Cabral são o simbolo do valor da Raça. O prestígio dos seus nomes é o nosso prestígio; da gloria do seu feito compartilharemos nós. Não são dois indivíduos que vão empreender a viagem aérea. É todo o Portugal. É toda a alma da Patria. É todo o sentir dum povo.
Que nenhum compatriota nosso se esqueça, pois, do dever que o País lhe impõe nesta ocasião, em que o mundo inteiro tem os olhos sobre nós. Sois pobres? Dai pouco, mas dai. Sois ricos? Contribuí para esta obra. Fazei uma afirmação do amor, que consagrais ao vosso País. Mostrai que o patriotismo não é uma palavra vã, mas qualquer cousa que vibra dentro de nós e se exemplifica em actos, todas as vezes que é posto à prova.
Para vós, pois, apelamos! Temos a certeza antecipada de que todas as listas, que vamos enviar para os pontos onde residem portugueses, se cobrirão de assinaturas. Está aberta a subscrição. Houveram por bem patrociná-la distintas individualidades da Colonia, a quem apresentamos os nossos devotados agradecimentos, por se terem dignado apoiar a iniciativa de “ A Patria”.
São elas que constituem a seguinte Comissão
Dr. Rodrigo José Rodrigues – Governador de Macau – D. José da Costa Nunes – Bispo de Macau – General Manuel de Oliveira Gomes da Costa – Almirante Hugo de Lacerda Castelo Branco – Capitão de Fragata Luis António de Magalhães Corrêa – Dr. Alvaro Cesar Corrêa Mendes, Juiz de Direito – Dr. Alfredo Rodrigues dos Santos, Secretário Geral – Dr. Carlos Borges Delgado, Presidente do Leal Senado – Manuel Monteiro Lopes, Gerente do Banco Nacional Ultramarino e Tesoureiro da Comissão.
Em Macau, foram conseguidos 1794,21 dólares depositados no BNU numa conta especialmente aberta para aquele fim. O que terá sido feito ao dinheiro… ainda não descobri. Mas por certo o jornal A Pátria, publicado na época em Macau, deverá ter publicado a explicação.
Filho de cantores de ópera, Leopoldo Danilo Barreiros viveu em Macau, no Brasil e em Paris, foi engenheiro electromecânico, dançarino de tango e instrutor de metralhadora na Legião Francesa, viajou pela Cochinchina e pela Indochina, foi várias vezes despedido, formou-se em Direito já na meia idade (e ainda fez uma carreira brilhante), dedicou-se à investigação de porcelanas chinesas e de cultura portuguesa em Macau, publicou romances e ensaios, foi comissário na Exposição do Mundo Português (1940) e acabou preso pela PIDE, que o deportou para São Tomé e Príncipe. Uma parte da sua saga pessoal vem descrita em Famílias Macaenses, do especialista em genealogia Jorge Forjaz.
Não cabe num post a vida deste ‘macaense’ adoptivo (nasceu em Lisboa) e chegou a Macau nos anos 30 do século XX. Num livro caberá certamente que, ao que julgo saber, está para muito breve…

Nestes anos levaram-se a cabo obras fundamentais na orla costeira de Macau. Aterros (patane, areia preta, praia grande, porto exterior…) e desassoreamento (para aumentar a navegabilidade e permitir que embarcações de maior calado acostassem aos portos) foram as mais importantes. Para se ter uma ideia… o terreno conquistado com os aterros aumentou em duas vezes o tamanho do território. As ruas do Porto Interior, por exemplo, passaram de 15 metros de largura para 23. Na Praia Grande, construiram-se estradas que ligavam com o Porto Interior. O Porto Exterior começou a ganhar forma. A Av. Almeida Ribeiro passou a ligar o Porto Interior com a Praia Grande. Em suma, criaram-se as condições para que Macau progredisse, acompanhando o mundo do pós 1ª Guerra Mundial. O Almirante Hugo Lacerda esteve à frente das obras dos portos que também incluíram a ilha da Taipa.
Nas décadas de 1940 e 1950 o Softball… uma derivação do Baseball era muito apreciado em Macau. O campo 28 de Maio – Canídromo – era um dos locais onde se jogava.

“Os Lobos” na década de 1950. Fotografia do site Memória Macaense

Carlos d’Assumpção é uma das personagens mais importantes da história recente de macau.

Foi advogado, jurista, político, mediador entre comunidades. “Granjeou um prestígio tal que personificou aquela ideia de patriarca a quem se recorre para escutar um conselho ou pedir uma opinião. Tinha a palavra certa no momento certo. Além disso, este ano assinala-se os oitenta anos do seu nascimento e pareceu-me a ocasião adequada para avançar com este trabalho.”
Palavras da historiadora Celina Veiga de Oliveira a propósito do livro fotobiográfico “Carlos d’Assumpção. Um homem de valor” editado este mês em Macau.
António da Silva Rego nasceu em Joane, Famalicão, em 1905 e faleceu em 1986. Sacerdote e licenciado em Ciências Históricas pela Universidade de Lovaina, em 1946, foi nomeado professor da Escola Superior Colonial onde regeu as cadeiras de Colonização Moderna e Missionologia. Dedicou-se à investigação histórica concernente às colónias portuguesas e, em especial, ao Oriente. Algumas das suas obras como Documentação para a História das Missões do Padroado Português do Oriente são hoje peças fundamentais para a história dos portugueses na Índia e em Macau.
Em 1946 publicou um livro – editado pela Agência Geral das Colónias – intitulado “A presença de Portugal em Macau”. No capítulo relativo ao estabelecimento do Território faz um resumo de todas as versões portuguesas, chinesas e de outros países acerca do aparecimento de Macau.
Fernando Vasco Leote de Almeida e Costa, nasceu em 1932. Oficial da marinha serviu como Ministro da Administração Interna durante o governo de José Pinheiro de Azevedo, entre 19 de Setembro de 1975 e 23 de Julho de 1976. Em 23 de Junho de 1976, tornou-se Primeiro-Ministro interino após Pinheiro de Azevedo ter sofrido um ataque cardíaco durante a sua campanha presidencial e assim continuou até ao fim do mandato de Pinheiro de Azevedo, quando este foi substituído por Mário Soares. Foi o 134.º Governador de Macau, de 16 de Junho de 1981 a 15 de Maio de 1986.
A sua governação fica marcada pelo lançamento de alguns dos projectos mais estruturantes para o futuro do Território, mas não só: a nova Taipa, Hotel Royal, Excelsior, aeroporto, etc…
O episódio mais negativo terá sido a dissolução da Assembleia Legislativa em 1984, uma polémica que envolveu a Presidência da República e o Estatuto Orgânico.
No dia 13 de Outubro de 1979 (em baixo) aquando da inauguração pelo Presidente da República General Ramalho Eanes da exposição Macau: 400 Anos de Oriente na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa

Conta-se uma história – que tomo por verdadeira – que nas celebrações do ano novo chinês de 1981 – durante a vivicação de um dragão – o Gov. Melo Egídio deixou caír o pincel com que pintava o olho do dragão. Na altura um ancião chinês terá comentado ao jeito bem característico local: “Ahia, o Governador vai ficar pouco tempo.”
E assim foi. Pouco tempo depois Melo Egídio regressava a Portugal para tomar posso como Chefe de Estado-Maior das Forças Armadas no seguimento da extinção do Conselho de Revolução. Foi a 24 de Fevereiro de 1981 que o General Nuno Viriato Tavares de Melo Egídio deixou o Território. Até ser nomeado um novo governador – Almeida e Costa – os poderes foram delegados no encarregado do governo, o coronel José Carlos Moreira Santos.

Melo Egídio tinha substituído Garcia Leandro no final de 1974 e foi o primeiro Governador de Macau a visitar a China, em 1980, cerca de um ano depois de Portugal e China terem restabelecido relações diplomáticas.